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24/09/2021 | 6 min de leitura
Autor: Rodrigo Santos - Coordenador do Centro de Gramados Esportivos Itograss
São inúmeros os agentes causadores de doenças em gramados, com destaque para os fungos que, através dos ataques às raízes, folhas ou ambas as estruturas, são os maiores causadores de prejuízos aos nossos gramados de futebol.
Diversos são os fatores que influenciam o desenvolvimento de fungos sobre gramados esportivos, sendo os mais importantes a temperatura; a umidade do ambiente, do solo e da folha; o desequilíbrio nutricional; a baixa incidência de luz; a falta de drenagem e ventilação.
Uma vez que os gramados esportivos estão inseridos, em sua maioria, dentro do ambiente urbano, o seu controle deve causar o mínimo de agressão ao meio ambiente e a sociedade. Há ainda uma questão legal para o uso de defensivos nesses locais, podendo ser aplicado em áreas urbanas apenas os domissanitários - esses de eficiência mais comprometida.
Considerando a expectativa visual de um gramado esportivo, a alta quantidade de fungos que podem atacá-lo, as condições que podem favorecer esses ataques e a dificuldade legal e cultural no seu controle, não resta outra opção que não seja entender as características que favorecem o desenvolvimento de cada um deles e, através do manejo agronômico, evitar ou minimizar suas ações e danos consequentes.
Essa matéria será concentrada em oferecer subsídios para a sua tomada de decisão no momento da preparação. O manejo preventivo das principais doenças fúngicas dos gramados de futebol do Brasil, através de um controle integrado, será o nosso foco.
Manejo Integrado de Doenças no Gramado
Se dá o nome de Manejo Integrado de Doenças (MID) para o conjunto de estratégias e táticas de controle com o objetivo de evitar ou minimizar os efeitos de doenças sobre o gramado e o seu desempenho.
Devemos considerar que a mudança de alguns fatores climáticos ao longo do ano - que influenciam diretamente no crescimento de patógenos, como temperatura, precipitações e comprimento do dia - não estão ao nosso alcance.
Mas, antes de entendermos como o MID funciona, precisamos entender como funcionam os princípios de controle de doenças de plantas. Uma das maneiras mais ilustrativas foi sugerido por Whetzel e seus princípios:O Triângulo da Doença.
O conjunto de estratégias adotadas no MID são baseadas na determinação das táticas de manejo que previnem e evitam o dano causado pelo aparecimento de uma determinada doença, a velocidade e capacidade de diagnosticar o início dos ataques dos fungos e a tomada de decisão sobre a melhor maneira de controlar o seu desenvolvimento e minimizar os danos.
Pilares do MID de Gramados
Tente imaginar o MID como uma casa sustentada por vários pilares, sendo cada pilar uma técnica de manejo diferente que podemos construir e modificar, e as condições MACRO climáticas, aquelas que não temos alcance para alterar, como a fundação da casa.
Biológico: uso da ação de microrganismos antagonistas, através da técnica.
Químico: uso de controladores orgânicos e inorgânicos.
Genético: uso de variedades mais resistentes.
Físico: uso de barreiras físicas, solarização, refrigeração, drenagem e ventiladores.
Cultural: controle de tatch, irrigação, nutricional e altura de corte.
O inverno, normalmente, é a época mais propícia para o desenvolvimento do ataque de fungos sobre gramados, em especial os esportivos, por conta do acúmulo de partidas nesse período e da necessidade de estimular a sua recuperação através do incentivo nutricional.
Táticas de Manejo Adotados nos Gramados de Futebol
Abaixo são citadas as principais táticas, com base nos pilares do MID, que devem ser observadas dentro do seu plano de manutenção e preparação de gramados.
Variedades resistentes: escolha sempre uma variedade adaptada para a sua região. Essa adaptação fará com que o seu gramado apresente sempre maior vigor e, consequentemente, maior resistência às doenças.
Controle de equipamentos: equipamentos que são utilizados em mais do que um único gramado de futebol devem ser lavados e desinfetados todas as vezes que forem transportados. Máquinas podem transportar fungos e micélios, e disseminar doenças.
Nutrição: a adubação equilibrada é o segredo para manter plantas preparadas para o ataque de doenças fúngicas. No seu plano nutricional, procure evitar adubações - principalmente as ricas em Nitrogênio - nas épocas em que a planta está com o metabolismo mais lento.
Poda: gramados de futebol devem ser mantidos entre 10 e 20 mm de altura. Gramados mais altos podem formar colchão e favorecer o desenvolvimento de fungos, assim como gramados muito baixos podem desprover a planta de folha suficiente para realizar as suas ações metabólicas necessárias e ter a sua susceptibilidade ao ataque fúngico aumentada.
Irrigação e drenagem: a maioria dos fungos que causam danos em gramas de clima quente se desenvolvem melhor sob condições de solos mal drenados e excesso de umidade nas folhas. Procure parcelar a sua irrigação e fazê-la nas horas mais quentes do dia, evitando principalmente o início da manhã e o final da tarde.
Ventilação: procure facilitar a circulação de ar sob o seu gramado. Podas em árvores ao redor do gramado e uso de ventiladores artificiais são ótimas ferramentas de controle de desenvolvimento de fungos.
Iluminoterapia: a poda também ajuda na ação do sol sob o controle do fungo, assim como o uso de lâmpadas artificiais.
Controle de tatch: O colchão não é desejável em gramados de futebol. Eles comprometem a qualidade do jogo e, principalmente, favorecem o desenvolvimento de fungos.
Orvalho: muito comum em regiões úmidas, o orvalho deve ser controlado e não pode estar presente com frequência sobre as folhas do seu gramado. Use a irrigação logo cedo ou passe uma mangueira de jardim esticada para acabar com ele.
Principais Doenças em Gramados de Futebol
Dollar Spot
Patógeno: Sclerotinia homoeocarpa.
Variedades de grama: Bermudas são as mais suscetíveis.
Ocorrência: doença comum nos meses mais quentes do ano, entre a primavera e o verão, é causada pelo excesso de umidade e normalmente pela deficiência de Nitrogênio.
Sintomas: inicialmente forma círculos de 5 cm semelhantes às moedas de 1 dólar. A depender do desenvolvimento, essas manchas podem se encontrar e formar um grande círculo. A cor das manchas inicialmente é amarela e evolui para a cor de palha.
MID: a identificação inicial da doença se dá pela formação de um micélio (teia de aranha) que pode ser facilmente identificada nas primeiras horas do dia. O fungo é facilmente disseminado pelo vento, equipamento e pessoas.
Evite que o gramado seja exposto a condições de stress hídrico; quando irrigar procure fazer durantes as horas mais quentes do dia, evitando início da noite e da manhã para evitar horas seguidas prolongadas de folha molhada. Mantenha os níveis adequados de Nitrogênio, controle o tatch e favoreça a circulação de ar pelo gramado.
Pythium
Patógeno: Pythyum spp.
Variedades de grama: ataca todas as espécies de gramas esportivas, sendo que as de clima temperado, como a Ryegrass, são mais suscetíveis.
Ocorrência: a doença ocorre em todas as épocas do ano, porém seus danos são mais facilmente percebidos nos meses mais quentes e úmidas, principalmente quando se atingem temperaturas acima dos 28 °C.
Sintomas: manchas circulares ou desuniformes que variam de diâmetros iniciais entre 2 e 5 cm e aumentam rapidamente. As manchas podem ser escuras e parecerem oleosas ao contato com os dedos. O fungo pode ainda aparecer em tons amarelo ouro ou vermelho no centro com circunferência acinzentada.
Pela manhã, pode-se observar a presença de micélio fofo, branco ou cinza, formado durante a noite. Os sintomas podem se apresentar em listras no sentido que os equipamentos normalmente trabalham.
MID: além dos micélios, você pode identificar a ação deste fungo em gramados que apresentam declínio com a grama aparentando estar sem cor viva e com crescimento lento. O excesso de Nitrogênio favorece o aparecimento dessa doença; faça o seu uso moderado.
O excesso de umidade no solo e nas folhas favorecem o desenvolvimento, portanto, controle a drenagem e use a irrigação de forma adequada no seu manejo.
Rhizoctonia
Patógeno: Rhizoctonia Solani
Variedades de grama: mais comum nas variedades da família Zoysia, como a Esmeralda e Esmeralda Imperial.
Ocorrência: doença fúngica de solo que está presente em todo o território nacional podendo causar danos muito severos em variedades susceptíveis. Nos gramados com espécies de clima quente, a doença se manifesta com mais frequência naqueles meses em que o gramado apresenta baixo ritmo de crescimento.
As temperaturas e umidade baixas e o comprimento do dia menor favorece o seu desenvolvimento.
Sintomas: os sintomas variam conforme a altura de poda que o gramado está sendo conduzido, mas normalmente se iniciam com a formação de anéis ou manchas de formato circular de cor marrom com as extremidades vermelhas. Essas manchas aumentam de tamanho muito rapidamente, sempre com a frente de avanço vermelha.
As infecções provocam uma lesão na bainha das folhas e estolões. Essas estruturas atacadas podem ser facilmente removidas com os dedos.
MID: observação inicial das manchas e imediato controle da umidade. O excesso de umidade no solo e, principalmente, nas folhas favorece o desenvolvimento do fungo. Também é recomendado cessar qualquer adubação que contenha Nitrogênio em sua composição.
Preventivamente o controle nutricional deve procurar manter os níveis de Fósforo e Potássio altos durante o inverno. A frequência de irrigação deve ser diminuída no inverno, assim como deve-se evitar horas seguidas de folha molhada.
Promova a circulação de ar por meio do controle de tatch e do uso de ventiladores. A iluminoterapia também favorece o controle do fungo.
Curvulária
Patógeno: Curvularia spp
Variedades de grama: todas as variedades
Ocorrência: doença comum em gramados sob stress hídrico, normalmente nas épocas mais quentes do ano. Solos ácidos e com baixa fertilidade também favorecem o ataque do fungo.
Sintomas: os sintomas são observados por manchas que se iniciam nas pontas das folhas e podem posteriormente se avançar para toda a folha. Essas manchas se apresentam amareladas ou verde manchadas.
MID: os primeiros sintomas aparecem na primavera, logo após o fim da fase de estresse hídrico em gramados que não recebem irrigação.
A poda do gramado provoca lesões que podem ser a porta de entrada para a ação deste fungo. O cuidado com a fiação dos equipamentos, que pode reduzir a área exposta com as podas, é uma ferramenta de controle eficiente.
Use a irrigação como ferramenta de manejo, evitando que o gramado passe por situações de stresse hídrico.
Conclusão
Gramados de futebol, sejam eles de grandes arenas ou para diversão nos finais de semana, estão sujeitos aos prejuízos causados pelas doenças. Esses prejuízos variam de severidade, podendo em casos extremos levar o gramado à morte.
As técnicas de preparação, como visto, estão diretamente relacionadas à dificuldade que impomos ao aparecimento das doenças. Com medidas simples podemos mitigar o aparecimento delas.
Agora você está um pouco mais preparado para evitar esse dano.
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